João de Barro Festa no céu Lyrics

Em certa manhã de junho, em tempos que já se vão
Junto à lagoa dos sapos, lá no meio do sertão,
Mestre sapo numa pedra, redondo como uma bola,
Ensinava tabuada aos sapinhos lá da escola :

"- Quatro vez quatro, quatro,
com mais quatro, quatro ! "
"- Tá errado !"

A velha dona Araponga, que é o arauto da floresta,
Fazendo um berreiro enorme, anunciava uma festa:

"São Pedro manda avisar
Aos b____os deste sertão
A Grande Gesta no céu
Na noite de São João.
Não deve faltar à mesma
Nem um b____o voador
Do mosquito a borboleta
Do colibri ao condor
E para b____o sem asa
Não fazer vestido à-toa
Manda frizar que a festança
É só pra b____o que voa !"

A madame Saracura, que se julgava a mais bela,
E andava as turras com o sapo que a chamara magricela
Ao ouvir a tal notícia, pulou de louca alegria
E, em dueto com o marido, Começou a cantoria:

QUebrei três potes, quebrei três potes
Um coco só
.

Mas para bolir com o sapo, para lhe fazer ciúme
Enxertou estes versos na cantiga de costume

Vai haver festa no Céu na noite de São João
Mas só vai

Mas depois daquele dia, começou a matutar:
Como é que eu vou a festa sem ter asas pra voar.

Vai haver festa no céu
Vou levar meu violão
Vou cantar a noite inteira,
Bam, banlão, bambão, bambão
A festança vai ser boa, vai ter canjica e quentão.
Mas só vai b____o que voa, Bam, baram, baram, bambão.

Quando o urubu terminou o sapo fez um escarcéu
E saiu gritando:

"- Oxe ! Eu vou a festa no céu !
Saracura ta pensando que eu só vivo na lagoa?
Vou mostrar a magricela Vou provar que sapo voa
Vou tirar minha casaca lá do fundo do baú
Já decidi Vou a festa, no violão do urubu !"

Chegou a manhã da festa. Desde cedo a passarada
Foi subindo para o céu, em bandos em revoadas
Também cedo bem cedinho, mestre sapo cururu,
Se vestiu, saiu da toca, foi procurar o urubu.
Foi andando , foi andando e ao chegar numa clareira
Viu o urubu cochilando Lá no alto da paineira
O urubu estava bem alto Mas por sorte o violão
Estava dependurado Num galho rentinho ao chão
Mestre sapo deu um pulo E rápido num momento
Afastou algumas cordas e penetrou no instrumento
E escutou de lá de dentro, o urubu dizer de fora:

"Valha-me São Benedito, que quase que eu perco a hora!"

O urubu pegou no pinho, Bateu asas e voou
Mas estranhando o seu peso Pelo buraco espiou
Tanto espiou que encontrou o sapo lá bem no fundo
E sacudindo o instrumento Cantou o furibundo:
.
" Sai daí sapo danado, Sapo feio, jururu
Sapo não vai para o céu, Na viola de urubu
Vou jogar você lá embaixo
- Tá errado seu doutor
Desta vez eu te esburracho
- Tá errado, sim senhor
Mas agora eu te perdôo, b____o feio da lagoa
Só pra ver no fim da festa, como é que sapo voa
Só pra ver no fim da festa, ôôôôôôôôô
Como é que sapo voa!"

Quando chegaram ao céu, a festa estava animada
E já de longe se ouvia, O canto da b____arada
A marchinha era um sucesso,
Mosquitos cantando fino, besouros cantando grosso :

"Sobe, sobe, balãozinho, Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha pra louvar nosso senhor"

a__im que o urubu chegou e foi entrando no salão
Mestre sapo foi saltando de dentro do violão
Foi chegando e foi tirando a garça para dançar
Porém a garça orgulhosa Nem parou pra conversar

Foi tirar a juriti. Quase levou um sopapo
Do gavião que exclamou: "Pomba não dança com sapo!"
Desanimado com todos, cansado de tudo enfim
Mestre sapo adormeceu No balanço no jardim
Quando acordou exclamou:
" Valha-me Nossa Senhora
A festa já se acabou
O urubu já foi embora ... "
.
E começou a pular
Já estava quase maluco
Quando avistou lá num canto
O trombone do Macuco
A orquestra foi a última
a deixar o firmamento
Cada músico levando consigo
O seu instrumento .
Mestre Macuco soprou
Mas a música não saiu
Puxou a vara com força
E foi isso que se ouviu:
.
"Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado
Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado !
Pois então se tá errado
Por que não toca direito?
Eu nunca toquei tão mal
Em dias da minha vida
Eu acho que o meu trombone
Está com a vara entupida ."
.
E soprou com tanta força
Da bochecha e do pulmão
Que o sapo saiu de dentro
Como um tiro de canhão
Saiu e se despencou
De lá de cima o coitado
Vendo uma pedra cá embaixo
Gritava desesperado:
.
-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho !
.
b__MMMMMMMMMMMMMM!
.
Mas a pedra não se afastou
Pedra não anda nem fala
E o sapo se esborrachou
Não morreu
Mas ficou feito
Seu corpo ficou disforme
Os olhos se esbugalharam
A boca ficou enorme
.
E os sapos que eram redondos
Muito bonitos outrora
Ficaram a__im tão feios
E são tão chatos agora
Escutem meus amiguinhos
Este conselho acertado
Ir a festa, sem convite?
Escutem bem:
.
" TÁ ERRADO ! "

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